sexta-feira, janeiro 17, 2014

Ainda sobre o tempo em projetos

Confesso que após o último post em que falei sobre o tempo necessário para a consecução de um projeto e da importância de observarmos o mínimo tempo possível para garantirmos a qualidade da entrega dos benefícios previstos em nossos projetos, fiquei com um gostinho, lá no fundo, de que estava pedindo mais tempo para a execução de projetos, o que poderia ser interpretado, erroneamente, como busca de conforto para a implementação, vamos dizer assim “com mais folga”. Como o intuito definitivamente não era este, vão aqui dois exemplos onde esse bom senso não foi empregado e os resultados obtidos com tal inobservância.
Moro em uma importante cidade do interior de Minas Gerais, extremamente importante para a economia, representando o quarto PIB do Estado, e que é o maior centro de atacadistas da América Latina, e como todos sabem, a distribuição e o negócio atacadista depende de logística. Temos um aeroporto funcionando sem ILS  (Instrument Landing System), o que causa diversas paralizações no pouso de aeronaves, por conta do tempo (no último ano nosso aeroporto ficou 244 horas inoperante, contra somente 13 horas do aeroporto de Congonhas). E o pior é que o instrumento foi comprado e instalado em 2010, mas até agora não foi usado pois a Anac exige algumas adequações que não foram previstas no projeto. Vejam que houve um projeto, um planejamento, investimento na aquisição mas não foram previstas as adequações necessárias e com isso a operacionalização do sistema já conta com quase quatro anos de atraso. Um escopo mais completo levaria um pouco mais de tempo para implantar mas já teríamos os benefícios do sistema instalado, sem falar que a economia com o aumento de pousos em nosso aeroporto pagaria facilmente o investimento na conclusão das adequações.
Outro exemplo que vale a pena ser analisado é o da arena Palmeiras (atual Allianz Parque), pensada obviamente para receber e suportar os jogos da copa. O projeto e contrato assinado em 2010 previa uma entrega em 2012, com multas diárias por atraso, mas foram tantas as mudanças de escopo e problemas encontrados, entre eles problemas com licenças, que a obra até o momento não tem previsão de entrega, e não poderá ser utilizada nem para jogos, nem para que seja sede de algum país em treinos e nem para shows que era a última alternativa para capitalizar parte do investimento já feito na obra, e o pior é que parte dos artistas já havia sido contratada, e terão que ser cancelados com mais custos portanto relativos a multas contratuais.
Não entrarei em obras do governo, pois nesse caso são tantas as variáveis, que é difícil até utilizar como estudo de caso, mas os casos citados servem de exemplo da importância de se planejar adequadamente o escopo do projeto antes da implantação, e do quanto podemos gastar a mais (tempo e recursos) caso tentemos “simplificar” e “acelerar” esta análise.

O ILS assim que for instalado e liberado para uso, poderá trazer os benefícios planejados, já o estádio que não ficou pronto para a Copa...