Confesso que após o último post
em que falei sobre o tempo necessário para a consecução de um projeto e da
importância de observarmos o mínimo tempo possível para garantirmos a qualidade
da entrega dos benefícios previstos em nossos projetos, fiquei com um gostinho,
lá no fundo, de que estava pedindo mais tempo para a execução de projetos, o
que poderia ser interpretado, erroneamente, como busca de conforto para a
implementação, vamos dizer assim “com mais folga”. Como o intuito
definitivamente não era este, vão aqui dois exemplos onde esse bom senso não
foi empregado e os resultados obtidos com tal inobservância.
Moro em uma importante cidade do
interior de Minas Gerais, extremamente importante para a economia, representando
o quarto PIB do Estado, e que é o maior centro de atacadistas da América
Latina, e como todos sabem, a distribuição e o negócio atacadista depende de
logística. Temos um aeroporto funcionando sem ILS (Instrument Landing System), o que causa
diversas paralizações no pouso de aeronaves, por conta do tempo (no último ano
nosso aeroporto ficou 244 horas inoperante, contra somente 13 horas do
aeroporto de Congonhas). E o pior é que o instrumento foi comprado e instalado
em 2010, mas até agora não foi usado pois a Anac exige algumas adequações que
não foram previstas no projeto. Vejam que houve um projeto, um planejamento,
investimento na aquisição mas não foram previstas as adequações necessárias e
com isso a operacionalização do sistema já conta com quase quatro anos de
atraso. Um escopo mais completo levaria um pouco mais de tempo para implantar
mas já teríamos os benefícios do sistema instalado, sem falar que a economia
com o aumento de pousos em nosso aeroporto pagaria facilmente o investimento na
conclusão das adequações.
Outro exemplo que vale a pena ser
analisado é o da arena Palmeiras (atual Allianz Parque), pensada obviamente
para receber e suportar os jogos da copa. O projeto e contrato assinado em 2010
previa uma entrega em 2012, com multas diárias por atraso, mas foram tantas as
mudanças de escopo e problemas encontrados, entre eles problemas com licenças,
que a obra até o momento não tem previsão de entrega, e não poderá ser
utilizada nem para jogos, nem para que seja sede de algum país em treinos e nem
para shows que era a última alternativa para capitalizar parte do investimento
já feito na obra, e o pior é que parte dos artistas já havia sido contratada, e
terão que ser cancelados com mais custos portanto relativos a multas
contratuais.
Não entrarei em obras do governo,
pois nesse caso são tantas as variáveis, que é difícil até utilizar como estudo
de caso, mas os casos citados servem de exemplo da importância de se planejar
adequadamente o escopo do projeto antes da implantação, e do quanto podemos
gastar a mais (tempo e recursos) caso tentemos “simplificar” e “acelerar” esta
análise.
O ILS assim que for instalado e
liberado para uso, poderá trazer os benefícios planejados, já o estádio que não
ficou pronto para a Copa...