domingo, agosto 26, 2007

O que consideramos como cultura...


Depois do último texto que publiquei sobre a inclusão digital no Brasil e dos problemas que esse tema vem enfrentando, face ao despreparo de educadores e até de falta de metodologia e acompanhamento do programa de inclusão digital do governo, recebi alguns comentários no Blog, e-mails e até bate-papos de alguns amigos com novas idéias sobre como corrigir o problema.
De fato acho que não existe uma verdade única sobre esse caso, temos mesmo é que ter uma variedade de idéias e atitudes que, juntas, nos levará a uma realidade diferente.
Se por um lado não temos consenso relativo ao que faria acelerar a inclusão digital no Brasil, por outro parece não haver dúvidas quanto à opinião pública, frente à decisão do Ministério da Cultura que, através da ANCINE (Agência Nacional do Cinema), autorizou a captação de nada menos que 4 milhões de reais para a produção do filme “O Doce Veneno do Escorpião” de Bruna Surfistinha.
Não sou a favor da censura, e acredito de fato que cabe aos tele-expectadores e cinéfilos, o julgamento sobre se vale ou não a pena assistirem a um filme contemporâneo que conta a vida de uma prostituta. Mas vai daí uma distância muito grande entre encararmos esse enredo como cultural. Sem falar que a comparação é inevitável: ao passo que se luta por descobrirmos uma forma de melhorarmos as condições de milhões de crianças na educação básica, como forma de construirmos um futuro melhor (para todos), investiremos o equivalente a 10 mil computadores em um filme da Bruna Surfistinha.
De fato estamos falando de Ministérios diferentes e obviamente com objetivos diferentes, aplicados sobre iniciativas ainda mais diferentes, mas como disse o Zé Ramalho, esse não é o meu Brasil. Depois de mais de três anos falando em PC conectado e em programa de inclusão digital, conseguimos como iniciativa do governo, provocar atrasos no programa escolar de várias crianças que participaram do programa “Um computador por criança”, mas em compensação teremos filmes nacionais novos em cartaz...

4 comentários:

Maurilio Carneiro disse...

Pois é. Essa é a nossa realidade.

Quantos milhares de computadores poderiam ser comprados se fosse ao menos melhorada a eficiência da máquina estatal?

Quantos milhares de computadores poderiam ser comprados se fosse ao menos reduzido nível de corrupção dos órgãos governamentais?

Quantos milhares de computadores poderiam ser comprados se houvesse mais competência técnica e menos corporativismo nos órgãos do governo?

Unknown disse...

Não sei não. Já fui mais idealista, hoje sou mais pragmático. Winston Churchill disse que a democracia é o pior sistema de governo existente, com exceção de todos os outros... e eu acho que é por aí mesmo. Num mundo ideal, decisões ideais seriam tomadas, haveria saúde e educação para todos, paz e prosperidade. Mas não é nesse mundo em que vivemos, então... precisamos aceitar as regras.

Na questão específica dos PCs para inclusão digital, é perfeitamente razoável assumir que esse seria o melhor investimento para o dinheiro público. Porém, em outros países e em outras eras, a tecnocracia também conseguiu tomar decisões absolutamente lamentáveis. Decisões "tecnicamente competentes" já causaram grande desperdício de tempo e de dinheiro, porque não se alinhavam com a necessidade real das pessoas. Assim, não podemos partir do pressuposto de que o conhecimento técnico seja um árbitro soberano das necessidades humanas. Simplesmente, não é assim que funciona.

Não gostaria que isso soasse como derrotismo, ou como aceitação precipitada da "vontade da maioria". Até porque acho que a maioria não está dando muita bola pra nada. Mas é preciso entender que a regra do jogo é outra. É preciso agir com calma e inteligência para fazer as coisas acontecerem, passo a passo.

Pra terminar, confesso que às vezes me dá a sensação de que o mundo caminha pra pior, para um "emburrecimento coletivo" jamais visto. Mas aí eu olho para um livro de história e vejo que as coisas sempre foram mais ou menos assim - só muda a escala de dimensão (mais pessoas) e de tempo (mais rápido). A humanidade dá uns passos pra trás, outros pra frente, e no geral tem caminhado. Ou alguém preferiria viver na idade medieval?

Edu@rdo Rabboni disse...

Bem Mau, com relação a corrupção, ninguém sabe ao certo. Já vi um estudo da ONG transparência sobre o custo da corrupção no Brasil, mas além de não me lembrar do número, acredito que não pudesse ser considerado. Quanto ao custo da máquina administrativa, essa sabemos que é a mais cara do mundo, e cerca de seis vezes mais cara que a Norte Americana, ou quatro vezes mais cara que os países europeus que mais esbanjam....deve suficiente para comprar mesmo muitos computadores...

Edu@rdo Rabboni disse...

É Carlinhos, uma vantagem tinha na idade medieval, apesar de existirem as "Surfistinhas" também, pelo menos elas não escreviam livros e nem Blogs, muito menos recebiam benefícios fiscais para filmarem suas histórias....e vamos em frente, minha egüinha pocotó!, pocotó pocotó, pocotó!