domingo, agosto 12, 2007

Somente o computador não basta


Há algum tempo atrás comentei neste espaço sobre o programa OLPC – um computador por criança, criado no MIT pelo senhor Nicholas Negroponte, e que estava sendo adotado no Brasil. Sempre achei uma iniciativa louvável e, apesar de não ser suficiente para garantir a tão propalada inclusão digital, sempre reconheci a sua importância.
Sempre foi discutida que a iniciativa de fornecer a máquina nas escolas, à razão de um computador por criança, deveria ser acompanhada de ação tão ou mais importante, no sentido de capacitar o corpo docente das escolas, para que também nesse nível se desse a inclusão digital, caso contrário os computadores pouca ou nenhuma valia teriam, pois seriam utilizados de maneira inadequada pelos alunos.
Pois muito me inquietou ler uma reportagem na semana passada sobre uma pesquisa conduzida pelo LSI – Laboratório de Sistemas Integráveis da USP, que era o órgão responsável pela metodologia de integração das máquinas e pelo acompanhamento do uso dos computadores. Depois de seis meses de implantação do sistema em algumas escolas piloto, a conclusão da pesquisa é que na maioria das escolas, houve atraso dos alunos para com a matéria, em função de estarem participando da experiência. Explica-se, como não houve capacitação de todos os professores envolvidos, o computador acaba sendo subutilizado, ou mesmo utilizado para fins diversos dos da educação, como navegação em sites de relacionamento ou utilização para integrar-se em salas de bate-papo, e o que é pior, esse uso é feito durante o horário das aulas.
Conheci alguns programas bem sucedidos de inclusão digital, e lembro que em todos encontrei alguns pontos em comum como a aceitação por parte da comunidade da importância do projeto, capacitação do corpo de professores, preocupação na elaboração e pesquisa de conteúdo adequado ao sistema de ensino informatizado, equipe disponibilizada para manutenção das máquinas e de seus programas instalados além de obviamente as máquinas em configuração adequada.
Pesquisei e encontrei recomendações explícitas no sentido de se fazer uma experiência consistente, contando com todos os quesitos que mencionei, pelo próprio LSI, quando em dezembro de 2005 elaborou o relatório “Utilização Pedagógica Intensiva das TIC nas Escolas”, sinal de que já sabemos o que tem que ser feito, basta fazer.

4 comentários:

Maurilio Carneiro disse...

Quando o Brasil, vai deixar de ser Brasil? Conseguimos arruinar as melhores idéias.

Tem um caso que ouvi outro dia, sobre uma solenidade numa cidade do interior, para a inauguração do serviço internet.

O prefeito exultava, dizendo que a partir daquele momento todos os habitantes da cidade estariam participando da inclusão digital, etc.

Clima de festa, todos orgulhosos do grande avanço que a cidade conquistava.

Foi chamada uma senhora, para ter o privilégio de enviar o primeiro e-mail. A tal senhora sentou a frente do computador e ficou ali olhando, olhando... e não conseguiu mandar o e-mail.

Ela era analfabeta.

Como muitos moradores daquela cidade eles também não tinham computador em casa, luz elétrica, água, esgoto, ruas asfaltadas, coleta de lixo e outros serviçso básicos.

Mas internet agora tem...

Unknown disse...

Dá pena ouvir relatos assim - pensar no que poderia ser feito e não é, por falta de liderança e planejamento adequados. Mas...

Sendo realistas, e sabendo que o mundo funciona assim mesmo, sobram poucas opções. Tentar consertar o mundo não resolve. Por isso, sendo pragmático, resta fazer "o possível". O ideal seria construir a infra mínima - água, saneamento, eletricidade - e ir crescendo aos poucos, dando condições às pessoas. Mas no mundo real, a lógica é diferente. Existe uma verba X que é para ser investida em inclusão digital? Então vamos fazer o que é possível - comprar micros e colocar na mão das pessoas. As pessoas não estão qualificadas corretamente? Então, vamos fazer o possível - colocar os micros nas mãos dos meninos e torcer para que alguém aproveite minimamente o seu potencial.

As coisas são assim, por bem ou por mal. Se tudo fosse planejado, direitinho, funcionaria melhor? Talvez sim, talvez não. De um tempo pra cá prefiro pensar (como engenheiro) que o mundo é "peer to peer" - extremamente ineficiente mas por outro lado, extremamente robusto. Talvez existam boas razões pelas quais as coisas são como são...

Edu@rdo Rabboni disse...

Obrigado pelo comentário Maurílio, como disse a Lya Luft na semana passada, o Brasil precisa não de uma tábua de salvação, mas de uma ilha ou de um continente inteiro...

Edu@rdo Rabboni disse...

Carlos existem ótimas iniciativas comunitárias, de ONGS e do Banco do Brasil, visitei algumas delas e reconheci que estão fazendo um trabalho diferenciado com a inclusão digital. Em todos eles existe a preocupação com um modelo sustentável, bastava o governo copiar....Abraço e obrigado pelo comentário.