Quando comecei a trabalhar, o Brasil estava na época das Telcomunicações Analógicas. Como todo bom engenheiro, comecei minha carreira como estagiário em uma multinacional, onde teria maiores chances de aprendizado, já que o que era requerido pelo mercado não era oferecido pelas Universidades em geral. Minhas primeiras atividades foram projetos de centrais de comutação telefônica eletromecânicas, onde o que diferenciava um bom projetista era a sua experiência acumulada, já que aquela tecnologia estava vigente desde a década anterior, e prometia ficar no mercado por pelo menos mais dez anos (naquela época os ciclos de vida dos produtos eram superiores a dez anos). Percebi rapidamente que desenvolver-me naquela tecnologia seria penoso e demorado, pois os profissionais mais experientes tinham algumas "manhas" de projeto que não estavam nos manuais (aliás todos em alemão), e as guardavam a sete chaves. Vivi o exemplo clássico do "saber é poder", imaginava que demoraria uns dez anos para começar a ter a mesma desenvoltura que os grandes projetistas, isso se desse sorte de sobreviver até lá. A sorte veio sim, mas na forma de mudança tecnológica e em menos de dois anos, com a introdução das tecnologias digitais, estávamos todos em pé de igualdade, veteranos e estagiários ou recém formados, se por um lado os veteranos tinham maior conhecimento da parte de telecomunicações como um todo, nós tínhamos maior conhecimento de processamento digital de sinais, e sem dúvida aprendíamos mais rápido.
Continuamos no vício do "conhecimento é poder" mas percebíamos que o conhecimento já não era tão restrito quanto antes. Algumas empresas detentoras da tecnologia em suas matrizes costumavam cobrar royalties até através das folhas de fax que passavam para o Brasil, na forma de resposta a questionamentos técnicos que eram feitos.
Mas o mundo percebia que, através da tecnologia digital, os recursos iam se igualando, não haviam tantas diferenças entre as soluções quanto na fase analógica, onde a própria construção do equipamento conferia-lhe características de robustez diferenciadas, já começávamos a falar em "features" como diferenciais, e a cobrar por software (no início nossos clentes não se sentiam confortáveis pagando por software, que por sinal não era nada, nem podia ser embrulhado e entregue através de notas fiscais...), a meta de vendas de facilidades ou serviços era de no máximo 10% do faturamento total da empresa (e era um grande desafio...). Se na época analógica a formação de um bom projetista levava dez anos, na era digital fazíamos isso em no máximo três anos. Ainda que até esse momento cada empresa tivesse seu próprio setor de P&D, e ninguém houvesse jamais ouvido falar em Linux ou Softwares de domínio público, que pudessem ser utilizados livremente por todos, desde que citadas as fontes, enxergo que foi através das tecnologias digitais, que se propiciou o que posteriormente viria a se chamar de inciativa Creative Commons, mas isso é conversa para outro post :-)
2 comentários:
Oi Edu, como vai?
Gostei do artigo ainda mais porque vivi este dilema na época tb.
Você se lembra do direito de intelectualidade do software?
Abraços
Sandra - SP
Se me lembro Sandra, aliás sua presença aqui é muito bem vinda!
Vivemos o começo da era da venda de software no Brasil. Foi a época em que as grandes empresas de software entraram no mercado de Telecom (para nunca mais sair), as discussões dos centros de gerência utilizando plataformas HP não tinham fim nas empresas Telebrás..., acho mesmo que fechamos um dos primeiros contratos no Brasil utilizando essas plataformas na década de 90. Sinta-se em casa no MundoConectado.
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