domingo, novembro 07, 2010

Conteúdo antes do meio


Nesta semana, no feriado de finados, comemoramos 90 anos da primeira transmissão de rádio comercial no mundo (rádio KDKA em Pittsburgh EUA), que naquela data transmitia o resultado das eleições. Menos de três anos depois, em 20 de abril de 1923, Roquette Pinto inaugurava a primeira rádio brasileira, tratava-se da Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, que nesta mesma data transmitiu a brilhante visão de futuro de seu fundador: “Todos os lares espalhados pelo imenso território do Brasil receberão livremente o conforto moral da ciência e da arte. A paz será realidade entre as nações. Tudo isso há de ser o milagre das ondas misteriosas que transportarão, no espaço, silenciosamente, as harmonias. Que incrível meio será o rádio para transformar um homem em poucos minutos, se o empregarem com alma e coração!”
Estupenda visão de Roquette Pinto que, mesmo achando as ondas de rádio “misteriosas” já vislumbrava o potencial transformador da comunicações na vida do homem moderno.
Nos mais de vinte anos em que atuo com tecnologia, já vivenciei os mais ardorosos debates sobre as tecnologias que predominariam no futuro próximo (ATM x IP, cable modem x ADSL, GSM x CDMA e mais recentemente na discussão do padrão a ser adotado para a TV digital no Brasil: SBTVD x DVB), sendo engenheiro não tenho como me furtar da obrigação de conhecer as diferenças entre cada tecnologia e possuir também meus argumentos de defesa em prol de uma ou outra, mas sempre achei muito mais importante a discussão sobre o conteúdo que se será transmitido sobre estas tecnologias. Entendo que aí more o segredo de uma possível evolução para nossa sociedade.
Não precisamos ir muito longe para nos depararmos com aplicados profissionais que defendam que a banda larga deva se consagrar através das tecnologias sem fio (celulares ou não) enquanto que uma outra grande porção de estudiosos defenderá com igual fervor a utilização das redes de cabos metálicos ou de fibra ótica para este fim. Eu, de minha parte, fico pensando como podemos fazer com que os outros 180 milhões de brasileiros excluídos do acesso banda larga possam começar a ter acesso a esta, que promete ser uma das tecnologias com maior poder transformador dos últimos tempos, talvez consigamos alcançar este patamar esquecendo-nos das defesas individualizadas e partindo para soluções compostas e mais criativas, que lancem mão de todas as tecnologias disponíveis, mas que não se esqueça que não basta poder transmitir, há que se cuidar também, e principalmente, do QUE transmitir.
Neste sentido meus amigos, temos que reservar tempo adequado e de qualidade, para discutirmos políticas de inclusão de bons conteúdos, de produção e de estímulo para criação de conteúdos com potencial de melhorar nossa população. Entendo ser esta uma pauta tão ou mais importante do que a dúvida sobre qual tecnologia prevalecerá em redes futuras.
Em tempo, Edgar Roquette Pinto era médico legista, antropólogo, etnólogo, ensaísta e professor, um homem interessadíssimo no desenvolvimento de nossa sociedade.

2 comentários:

Unknown disse...

Oi Edu, faz tempo que eu não comento nada por aqui, é bom passar de novo para "matar a saudade". Esse post seu me fez lembrar de uma preocupação grande minha, não só como profissional da área, mas como pai. Precisamos sim de conteúdo, e precisamos de quem o produza! As escolas estão tendo uma dificuldade imensa para se adaptar à nova realidade. A essa altura, já acho que seria importante que as crianças pudessem aprender a como produzir conteúdo digital. Pode-se até dizer que querer isso é bobagem, tendo em vista que elas mal mal conseguem ensinar a produção de conteúdo escrito, quanto mais multimídia! Mas é necessário. Outra coisa é ensinar a construir uma identidade digital, falar dos riscos envolvidos, etc. Hoje em dia se aprende tudo por tentativa e erro - e com muito risco. A "educação digital" ainda deixa muito a desejar, e o que preocupa nem é a falta de foco nas escolas, é o fato de que a maioria dos pedagogos me parece nem mesmo ter atinado para essa questão!

Edu@rdo Rabboni disse...

Olá Carlos, ótima notícia te ver de novo por aqui! Ontem assisti a um apresentação do Philip Kotler e ele falava que se nossas empresas ainda não tinham Nerds e Geeks trabalhando entre seus funcionários estaríamos em problemas logo logo, isso está muito alinhado com a sua preocupação, também as escolas precisamdestes profissionais em seus quadros. A escola que meu filho estuda tem essa preocupação, mas confesso que também me preocupa que os alunos conheçam mais a realidade digital que os mestres, mas vamos indo...abraços e permaneça Conectado.