segunda-feira, outubro 22, 2007

Interessa a conversa e não o meio


Quando era adolescente, havia uma esquina no condomínio onde morava, que era o ponto de encontro com meus amigos. Quando saíamos de casa, bastava irmos para aquela esquina para encontrar os colegas e poder trocar idéias, falar de nosso dia a dia, das namoradas que tínhamos ou das que não tínhamos, combinar as festas que faríamos, falar de nossos desejos e frustrações. Do outro lado da rua, existe até hoje uma padaria, que era o ponto de encontro dos adultos daquele bairro, onde por vezes se ia após um dia inteiro de trabalho, conversava-se muito, e ao final voltava-se para casa, às vezes até esquecendo-se de levar o pão para o jantar!
Certamente todos nós temos na memória lugares ou situações, que eram referências para gostosos bate-papos, alguns perduram até os dias de hoje.
Eu conversava com um aluno nesse final de semana, e ele me lembrava como era a vida dos rádio-amadores, que colecionavam contatos distantes, sendo um de seus objetivos conseguir falar com alguém o mais distante possível, se fosse do outro lado do mundo, melhor ainda. Essas incursões podiam ser premiadas depois com um cartão postal que comprovava o feito. Outro amigo me contou inclusive que utilizava código Morse via satélite, para se comunicar com o mundo todo. Confesso até que meu primeiro carro tinha um rádio PX, mas que tive que deixar de utilizar pois interferia tanto nos sinais de TV de meus vizinhos, que acabaria sendo linchado por eles.
Encaro as conversas de esquina, de padarias, no pátio da escola e de rádio-amador da mesma forma que as conversas via Internet (Messenger, e-mails, salas de bate-papo, redes sociais, etc). Na realidade a Internet apenas deixou essas possibilidades de comunicação mais acessíveis, uma vez que não depende das condições atmosféricas para a propagação do sinal de rádio, sem mencionar que é muito mais fácil nos comunicarmos com países do mundo inteiro através da escrita do que da falada.
A idéia aqui é que nos comunicamos mais na atual era da Internet, pois a mesma trouxe-nos novas oportunidades, no entanto o que sempre nos guiou foi a necessidade de comunicação em si, e não a maneira pela qual nos comunicávamos. Isso deixa para a Internet, uma classificação muito mais de fenômeno social, do que tecnológico. Bom seria que a segurança dos dias atuais continuasse permitindo as gostosas conversas de esquina, onde além de trocarmos idéias, ainda aproveitávamos para viver o espaço urbano, fora de nossas casas, atividade essa cada vez mais rara hoje em dia.

5 comentários:

Anônimo disse...

Parabens pela matéria, concordo com vc!!!! abraços...

@JoseAdolfo disse...

Tenho um imão mais novo faz conferência com os colegas td santo dia pelo msn. Na minha pré-adolescencia eu vivia na esquina no rua vizinha da minha casa, era um tempo muito bom. Fui apresentado ao messenger a uns 4 anos apenas e hj ele já se tornou essencial. Qual será nossa prox. forma de comunicar q vai tomar conta da nossa vida social?

abrs.
www.joseadolfo.com.br

Edu@rdo Rabboni disse...

Obrigado pelo comentário Adolfo, não sei qual será o próximo meio de comunicação a que seremos apresentados, mas sei que certamente só será aceito pelo público se tiver uma boa interface, de fácil manuseio e principalmente de bonito design.

Alexandre Rabboni disse...

Querido irmão,
interessa principalmente quem conversa, o preconceito de certas pessoas quanto a essa ou aquela forma de se comunicar, só endurece e afasta ainda mais as relações.
Eu que também compartilhei da mesma esquina anos depois, acho que a rede não substitui o contato olho no olho e sei que você nunca disse ou defendeu isso, afinal essa forma de comunicação veio para somar e não para substituir.
Um beijo Xandão

Edu@rdo Rabboni disse...

Alexandre, li a carta que Charles Darwin escreveu no fim da vida, que era assim:
" Até meus trinta anos ou mais, a poesia proporcionou-me grande prazer. Mas agora faz muitos anos que não suporto ler nem uma linha sequer de poesia. Minha mente parece ter se tornado uma máquina de processar consideráveis coleções de fatos, transformando-os em leis gerais. Se eu tivesse que viver minha vida de novo, adotaria a regra de ler um pouco de poesia e ouvir um pouco de música várias vezes todas as semanas. A perda desses gostos é uma perda de felicidade, e pode ser prejudicial ao intelecto e, mais provavelmente, ao caráter moral, debilitando a parte emocional da nossa natureza."
Quer fato mais adequado para defender a emoção do que ela ser reconhecida como importante ao final da vida de um cientista que sempre estudou através das leis de Descartes? Como ela é transmitida não faz a menor diferença, desde que provoque as melhores emoções.