sexta-feira, novembro 17, 2006

Músicas em formato Digital

Ao final do ano passado, uma revista feminina muito popular no Brasil (Contigo) divulgou uma pesquisa em que as entrevistadas diziam o que mais queriam, e o primeiro lugar foi tocador de MP3 (formato compactado de músicas digitais), em segundo lugar sexo, e em terceiro lugar CDs ou DVDs...
Pois bem, a música é universal, desperta sentimentos positivos, acalma, nos faz viajar e diverte muito. Bem, se a maioria das pessoas gosta de músicas e as gravadoras e distribuidoras trabalham todas com exclusividade, era de se esperar que o negócio da música estivesse em franca expansão correto? Errado! Na realidade é um mercado que está encolhendo.
As gravadoras e distribuidoras não entenderam o negócio da música, e ao invés de tentarem desenvolver novas maneiras de distribuírem seus conteúdos, pura e simplesmente fizeram-se de lesadas, e buscaram formas de inibir a distribuição de conteúdo digital na Internet. Grande erro estratégico, pois enquanto a penetração de computadores e de Internet cresce a olhos vistos, o mercado de distribuição de CDs patina, correndo sério risco de perder o bonde da história.
Adquirimos um CD da banda preferida de meu filho, que há muito tempo ele almejava. Chegando em casa, sua primeira reação foi gravar as músicas preferidas em seu tocador de MP3 para que pudesse ouvi-las onde quisesse, qual não foi sua surpresa ao descobrir que o disco veio com uma proteção de DRM (do inglês – Digital Right Management, ou controle de direitos autorais), esse aplicativo na prática impede que as músicas sejam copiadas para qualquer outro dispositivo digital. Ou seja, se ele tivesse “baixado” as músicas gratuitamente pela Internet, sem pagar nada a ninguém, poderia gravar e distribuir essas músicas sem nenhum problema, como as adquiriu legalmente, pagando direitos autorais, fica impedido de ouvir essas mesmas músicas em outro dispositivo, parece irônico não?
Por essas e outras é que vemos que o negócio de distribuição de músicas somente cresce na forma digital, inclusive de forma legal, através dos portais oficiais como iTunes, iMusica, Terra e Uol, e como o mercado digital está só começando, existe muito espaço para ser ocupado, por empresas empreendedoras e que se dêem ao trabalho de entender o que seus consumidores querem: boa música, adquiridas de forma segura e confortável, sem o risco de infestarem suas máquinas com vírus ou softwares mal-intencionados, e acima de tudo pagando um preço justo por esse prazer.

3 comentários:

Unknown disse...

Talvez eu seja excessivamente crédulo, mas a preocupação com a pirataria é uma marca de mercados imaturos. Já é assim desde a prensa de Gutenberg, proibida porque afetava o controle sobre o material escrito que ficava na mãos dos monges e escribas. Em alguns países, cobra-se uma taxa sobre as fitas cassete para indenizar as gravadoras (!). Houve época em que máquina Xerox colorida era proibida, porque poderia ser usada para falsificar dinheiro... Porém o melhor exemplo do amadurecimento vem do mercado de software.

Nos anos 80 e 90, a indústria de software investia pesado nas famosas proteções contra cópia. Usavam-se todos tipos de recurso para proteger disquetes. Muitos programas populares usavam os 'hardlocks', travas eletrônicas instaladas na porta da impressora, para limitar o uso do programa a uma estação licenciada. O problema é que essas proteções nunca foram populares, e criavam problemas justamente para os usuários legítimos, aqueles que tinham pago pelo programa. Era um feedback negativo: não valia a pena ser bonzinho... pensando apenas nos critérios práticos, valia mais a pena copiar e não ter que conviver com limitações absolutamente arbitrárias e desnecessárias. À medida que o mercado amadureceu, o uso da proteção contra cópia caiu em desuso, ficando restrita a nichos de mercado.

Recentemente, a Microsoft começou a tatear com uma volta ao sistema anterior, implementando a verificação de autenticidade do Windows. Estão tentando achar um meio termo, sob o nome de "software como serviço". Não sei até que ponto a idéia decola, o ser humano é notoriamente resistente a alguns tipos de proposta. Mas comparando no geral, vê-se que os sistemas de DRM atuais estão totalmente fora de alinhamento com as necessidades e os desejos dos usuários, e por isso, jamais atingirão o resultado desejado pela indústria fonográfica.

Unknown disse...

Há outro ponto para se considerar, até mesmo pelo caráter do absurdo. O monopólio da indústria fonográfica se mantém (entre outras coisas) graças a um sistema perverso de remuneração, que é distorcido de forma a beneficiar alguns em detrimento de outros. Trata-se do mecanismo de recolhimento de direitos autorais, feito por escritórios "autônomos" como o ECAD. Funciona assim: quem utiliza a música para fins comerciais (rádios, casas de espetáculos, e até mesmo pequenos estabelecimentos com som ambiente ou música ao vivo) precisa recolher uma taxa para o ECAD. O ECAD, por sua vez, distribui essa taxa para os autores ou detentores dos direitos sobre as músicas.

Até aí, parece normal, não é? Mas o absurdo se instala a partir daí. Na prática, é impossível contabilizar as músicas tocadas em todos os lugares (pelo menos com a tecnologia de hoje). Por isso, o ECAD usa uma lista "estatística", compilada com os dados das rádios. Ou seja, recebe mais dinheiro quem toca mais na rádio.

Assim, se você tiver um bar com música ao vivo, e estiver tocando só composições próprias, não interessa: vai pagar ao ECAD uma taxa que vai para os autores mais populares e seus agentes. O sistema é absolutamente injusto, e de certa forma, inviabiliza a criação de um circuito alternativo de música, pois os novos nomes jamais recebem proporcionalmente pelo uso de suas músicas - pelo contrário, eles acabam subsidiando os "medalhões" da música.

A saída para este processo surreal é - adivinhem? - DRM! Não aplicado da forma como é hoje, a serviço exclusivo de poucas empresas, mas como instrumento para garantir a propriedade individual do conteúdo. Se qualquer músico pudesse liberar uma gravação com DRM para uso em rádios, shows, etc; e se ele pudesse ter certeza de que receberia corretamente pelo uso do conteúdo intelectual que lhe pertence, o processo se tornaria mais justo, e mais funcional. Hoje, "não convém" estender o conceito de DRM dessa forma, mas acredito que o processo é inevitável, sendo apenas uma questão de tempo até que o DRM se torne uma ferramenta útil para o poder individual dentro de um mundo digital.

Edu@rdo Rabboni disse...

Tem razão Carlos, o problema não é o DRM, e sim a forma como é aplicada. Uma vez que o cliente superou a principal barreira, que é a aquisição da música de forma legal, e desembolsou 40 ou 50 reais, não há problema que enfrente mais um sistema do tipo DRM, desde que seja amigável e a experiência não seja negativa. Li que alguns compositores e bandas têm disponibilizados seus conteúdos gratuitamente na net, antes do lançamento (o mais conhecido é o Nando Reis) e quando lançam o CD o que acontece? Vendem pra caramba! Isso mesmo, porque gostamos de conhecer antes o que vai ser lançado, mas também gostamos de TER o CD em casa, com a capinha original, fotos do artista e uma arte bem acabada sobre o artisita e o repertório. Enfim, há espaço para um projeto bem definido de DRM, sem dúvida, mas não o que temos vivenciado por aí, que pune quem adquire legalmente suas músicas...
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