terça-feira, dezembro 11, 2007

O preço da desonestidade


Quando eu era criança e assistia aos filmes e seriados americanos na TV, sempre me chamava a atenção algumas características que eram mostradas, que nunca havia visto de forma semelhante aqui no Brasil como, por exemplo, o fato dos americanos nunca trancarem as portas de suas casas, ou deixarem os carros abertos (até porque vários carros são conversíveis), isso sem falar naquelas caixas de vidro que ficavam em estações de trem ou mesmo na calçada com os jornais do dia, e o cidadão colocando uma moeda abria a tampa e pegava apenas o seu jornal, apesar de ter acesso a quantos jornais quisesse.
Recebi um texto de meu irmão, citando o caso da França, onde bicicletas podem ser alugadas por ano (custam algo em torno de uma centena de Euros) para deslocamentos entre uma estação de metrô e uma estação de trem ou universidade. Para tanto basta pagar-se uma anuidade e tem-se à disposição uma bicicleta ao lado da estação de metro, que pode ser retirada sem qualquer burocracia, e deixada próxima ao destino de interesse, e o melhor de tudo é que não ocorrem roubos e nem vandalismos. Estive em Barcelona e vi que lá o sistema é mais avançado ainda, pois a bicicleta possui GPS onde é calculado, automaticamente, a distância percorrida e então basta ter um cartão de crédito cadastrado e usar normalmente a bicicleta, que os custos são debitados, de acordo com a distância percorrida, diretamente no seu cartão de crédito.
Quando estive em uma estação de metrô na Alemanha distraidamente me percebi na plataforma de acesso aos trens, sem haver pago por minha passagem ou comprado bilhete, pois lá não existem catracas, o bilhete deve ser comprado em máquinas de auto-atendimento, e guardado no bolso para que, caso algum inspetor entre no trem, ela seja apresentada. Em uma semana que estive andando nesse sistema de trens, nunca vi esses tais inspetores, pelo que deduzi que devem ser raras essas aparições.
Que bom seria se pudéssemos contar com a mesma honestidade em nosso país não? Poder abrir mão dos vários e vários controles de segurança que carregamos pela vida afora aqui no Brasil, e junto com eles, os bilhões de reais que são gastos tentando-se evitar as fraudes e a ação dos mais “espertos” que insistem em não pagar impostos, furarem filas, trafegarem pelos acostamentos, andarem de ônibus sem pagar e que compram e não pagam. Quanta coisa útil poderia ser feita, com o dinheiro que é gasto nessas tentativas de se evitar a desonestidade.

4 comentários:

Pai da Princesa disse...

Olá Eduardo...

Concordo com tudo o que foi dito por você. Na minha maneira humilde de enxergar o problema, encontro dois empecilhos:
Primeiro: Investimento em educação. Infelizmente sem educação não conseguiremos ir muito longe. Vivemos em um país com uma porcentagem enorme de analfabetos e semi-analfabetos (nem comentarei os analfabetos digitais). Se o indivíduo não consegue nem ler teus direitos, como irá saber de suas obrigações??? Assim, se não houver um salto de qualidade na educação, ensinando não somente conteúdos científicos, mas tornando as pessoas cidadãs, acredito que teu desejo para tornar-se realidade no Brasil será apenas utópico.
Em segundo lugar, sistemas anti-fraudes e de segurança, viraram uma indústria poderosíssima, o que dificulta diferentes tipos de ações governamentais, vide caso do desarmamento.
Aproveitando esse espaço, gostaria de dizer um fato de curioso que aconteceu comigo no último mês. Fui comprar num supermercado, alguns produtos, indo apenas eu e meu filho, que possui apenas 1 aninho e 1 mês. Após escolher os produtos que desejava, passei pelo caixa, paguei e fui guardá-los no carro, como de costume.
Quando fui tirar o garoto do carrinho, percebi que como é próprio de sua idade, ele pegou alguns bombons para brincar e deixou dentro do carrinho (que era daqueles com volante dentro), ou seja, eu não percebi, a caixa também não, nem quem cuida da vigilância interna. Voltei ao caixa, paguei pelos bombons abertos e devolvi os outros que ainda estavam intactos.
Não me estou auto elogiando, apenas citando como atitudes simples podem ser fundamentais para alcançar este "pequeno" objetivo.

Unknown disse...

Vi esse sistema de metrô que você cita pela primeira vez há uns seis anos atrás, em San Jose. A mesma coisa: o bilhete é comprado em uma máquina de auto-serviço, e os inspetores aparecem aleatoriamente nos trens para verificar. Pensei a mesma coisa.

Pessoalmente, sempre achei melhor partir do princípio da confiança. Acho que na média ganho mais do que perco. Confiando nas pessoas, ganho tempo (quem desconfia trabalha dobrado) e qualidade de vida (quem confia vive com o coração mais leve). Obviamente, vez por outra dá errado. Nessas horas é fácil para os "arautos da desconfiança" se apresentarem, falando horrores ("quanta ingenuidade", etc.). Mas ainda assim, acho melhor manter a confiança como princípio de vida, desconfiando só se me derem motivo. Mesmo com as eventuais "pancadas", sugiro a todos que tentem, pois tenho certeza que esse é um passo fundamental para construirmos um mundo melhor.

Edu@rdo Rabboni disse...

Valeu pelo comentário Marcelo, concordo que temos uma problemaço com relação a educação, só que não podemos aceitar que isso vire sinônimo de desonestidade, até porque não corresponde ao que acredito. As coisas andam de forma independente na minha opinião, assim como temos pessoas cultas e desonestas, certamente temos pessoas sem ensimo que poderiam dar aulas de integridade e honestidade. Mas vamos em frente, tentando enxergar mais os que fazem o bem dos que os que remam contra. Apesar de existirem mais pessoas honestas e direitas, certamente são as desonestas que mais aparecem, dando a impressão que estamos perdendo nesse placar...

Edu@rdo Rabboni disse...

Carlos que palavras estimulantes, que bom seria se mais pessoas pensassem assim! De fato percebo que quem o faz, como é o seu caso, vive mais leve, e se por acaso dá algo errado, pensamos "a vida às vezes nos surpreende" e continuamos vivendo...e confiando não é mesmo? Sinta-se em casa :-)