domingo, julho 22, 2007

Facilidades para quem?


Trabalhei no desenvolvimento de um produto para mobile payment (pagamentos através do aparelho celular). Fizemos o início da operação cadastrando usuários e estabelecimentos que passaram a aceitar também essa forma de pagamento. Nas entrevistas que dei, confesso que sempre me incomodou um pouco, informar que uma das vantagens do sistema era o fato de não haver aluguel dos POS (Point of Sale – pontos de venda são aquelas maquininhas nas quais passamos nossos cartões, e que são cobradas dos estabelecimentos comerciais em forma de aluguel) e que também trabalhávamos com taxas mais atrativas que as operadoras convencionais. Não que não retratasse a verdade, pois de fato é assim que operamos, incomodava por estarmos dando muito foco em uma facilidade para o comércio e não para o usuário. E todo o sistema foi pensado para oferecer maior conveniência também aos usuários, permitindo uma forma complementar de execução da operação financeira de pagamentos.
Pois bem, estou em férias e utilizando a Internet através de meu Net Super WiFi (por esse motivo o meu Blog não está atualizado na mesma freqüência com que costumava estar) e em viagem pelo Nordeste me deparei com estabelecimentos, que preferiam trabalhar com cheque ao cartão de débito ou crédito (fora alguns que a aceitavam somente dinheiro mesmo). Perguntei sobre a inadimplência, cheques sem fundo e etc, me responderam que a inadimplência era uma possibilidade, ao passo que os aluguéis das máquinas de cartão e as taxas cobrada pelas administradoras eram certas, e preferiam correr o risco de uma eventual inadimplência a terem suas margens reduzidas pelo pagamentos das taxas pertinentes.
De novo colocando o conforto dos estabelecimentos comerciais na frente da conveniência dos pobres clientes. Essas formas de operação somente são aceitas porque não há alternativas, já que todos os estabelecimentos comerciais nas proximidades adotavam o mesmo procedimento, caso houvesse loja com maior flexibilidade, certamente ganharia a preferência dos clientes. Apesar do esforço que temos feito para atendermos as necessidades de nossos clientes, vejo que não temos muita companhia nessa luta, às vezes tenho mesmo a sensação que estamos sós...

2 comentários:

Unknown disse...

Sendo realistas, e até meio teóricos: o mercado é "assimétrico". A demanda não se materializa de forma organizada ou consciente. Em outras palavras, apesar de ser mensurável como um número objetivo, a "demanda de mercado" não tem consciência dos seus atos, é uma vontade coletiva mas é uma vontade "burra". Isso explica entre outras coisas porque o movimento do "Cansei" não vai pra frente, porque a gente tolera filas nos bancos, e por aí vai.

Isso dói mas faz sentido. O que você tem a perder como indivíduo, tendo que pagar com cheque? Os momentos em que isso é relevante são pontuais, e na maioria das vezes você pode se preparar para ele levando um cheque. Você tem algo a perder quando deixa de comprar (barato?) porque o estabelecimento não aceitava o seu cartão. E por outro lado, o que o comércio tem a perder? Como eles disseram bem, no agregado, um bocado de dinheiro.

Veja que tudo isso depende também da maturidade do mercado. O brasileiro médio tende a ser tolerante porque está acostumado com serviços ruins. O que vier é lucro, pensa ele. Mas se a gente for se acostumando a ter serviços melhores, mais variedade, a exigência aumenta. E a paciência com a incompetência alheia diminui, por bem ou por mal. O dia que todo mundo sair de casa só com seu cartão do banco, a coisa muda de verdade. Tenho certeza disso.

Edu@rdo Rabboni disse...

Como costuma-se dizer, preocupa-me mais o silêncio dos sábios do que o barulho dos ignorantes. Nesse caso, quem conhece o benefício do pagamento integrado e não aceita o desrespeito dos estabelecimentos ou a falta de visão de conerciantes que preferem decidir pelo seu cliente, deveriam se fazer oouvir. Esse é o objetivo do texto. Também acredito, como você, que quando a maioria, ou parte significativa mudar, o mundo mudará junto. E vamos à luta.