segunda-feira, outubro 15, 2007

Planejado ou ao acaso?


Estive na Amana Key (http://www.amanakey.com.br/) no final de semana passado. A Amana é minha referência absoluta de inovação em gestão. Estudamos duas personalidades que trabalham com o futuro, um deles, Bruce Mau, disse que o processo é mais importante que o resultado, pois quando o resultado conduz o processo somente iremos para onde já estivemos, ou seja, não pode haver inovação!
À primeira vista essa afirmação muito me incomodou, pois ficou a percepção de que fazemos algumas coisas, só por fazer, sem objetivo direto e concreto, o que poderia ser classificado facilmente como perda de tempo. Esse pensamento cartesiano foi abandonado quando lembrei de algumas inovações e rupturas que surgiram nos últimos anos, onde podemos notar claramente que o resultado obtido foi obra do acaso e não fruto de forte planejamento. É o caso do Youtube, que foi criado para compartilhamento de fotos e vídeos com os amigos, e acabou virando um fenômeno de utilização. A própria Internet tinha objetivos militares e de segurança na comunicação quando foi criada, visava disponibilizar um sistema de comunicação por computadores que resistisse a um desastre e perda de parte da rede, sem que perdesse a capacidade de se comunicar – estava criada a Arpanet, avó da Internet. E assim ocorre com tantos outros produtos e serviços que são criados para um determinado objetivo e acabam servindo a outro objetivo totalmente distinto, que acaba por lhes promover o uso.
É fácil de imaginar que, quanto mais ruptura for provocada no processo de inovação, maior é a possibilidade de que tenha sido inventada “sem querer” o que, de forma alguma desqualifica a inovação ou deve ser motivo de demérito, pois as inovações devem ser mensuradas com base nos benefícios que trazem e no ineditismo de suas soluções e não pelo processo ao qual se submeteram.
Mesmo assim é inevitável que vejamos inúmeros comentários tecidos a respeito do processo de inovação de algumas soluções. Ora o processo somente passa a ser metodológico depois de estabelecido como sucesso. É o caso da Microsoft, da HP e de tantas outras inovações que nasceram literalmente nas garagens de bairros de subúrbio, e que depois de consolidadas como sucessos absolutos, passam por processos rigorosos para novas especificações e melhorias, mas que a meu ver, já não se tratam mais de inovações, senão de melhorias no que já foi uma inovação no passado...

6 comentários:

Unknown disse...

Edu, leio muito o blog do Seth Godin, que fala muito sobre esse tipo de coisa - inovação, mercado estabelecido x inovação disruptiva, etc. Recomendo a leitura.

Não resta dúvida que o processo de inovação, ou melhor, de reinvenção de um negócio é muito doloroso. A maioria das empresas não sobrevive às mudanças radicais. Existem empresas que "compram" a saída desse dilema, incorporando novas empresas, com novos produtos. A Cisco e mais recentemente o Google tem usado desse mecanismo. O problema é que para cada Cisco existem 10 Nortel, que matam a empresa recém-adquirida no processo de incorporação, jogando a idéia fora.

Outro ponto é que a empresa jamais pode perder a sede de crescer. Quem se contenta com o tamanho que tem está fadado a desaparecer. Um exemplo recente, e interessante, é o EBay. Depois de incorporar o Skype por alguns bilhões de dólares, o que eles fizeram? Tendo o maior mercado eletrônico do mundo e a ferramenta de comunicação mais subversiva do planeta, eles... se acomodaram. Não tenho dúvidas que haviam mil formas de combinar os dois e obter um crescimento ainda mais espetacular. Mas não foi o que aconteceu, e agora, o rei está nu.

Alexandre Rabboni disse...

Querido irmão, teu Blog está contribuindo tanto que tenho esperado seus artigos de véspera, aliás temos que estar presentes, ou estaremos angustiados com o passado ou ansiosos com o futuro. Difícil isso né ?
Vou lançar mão de um trechinho de Rudolf Steiner, para esta era de Micael.
"...temos que aprender nessa era, a saber, viver com pura confiança, sem qualquer segurança na existência, confiança na ajuda sempre presente do mundo espiritual."
Um grande beijo
estejamos sempre presentes, sentindo a vida
Xandão

Edu@rdo Rabboni disse...

Obrigado pelo comentário Carlos.
Já participei de alguns merges e aquisições, e o mais curioso é que normalmente se faz uma aquisição pensando também na competência da empresa em determinadas áreas, e não somente no seu mercado. Nesse sentido, grande parte do valor da aquisição pode ser perdido se não se consegue manter o mínimo da cultura anterior à aquisição. Paradoxal não? A Cisco faz isso muito bem, mas aparentemente no momento ela tem outros problemas para se preocupar...

Edu@rdo Rabboni disse...

Isso é engraçado, muito se compara a era da industrialização com a atual era do conhecimento, mas na realidade falamos de várias eras, se por um lado vivemos a era do conhecimento, também vivemos a era da emoção, do sentimento e porque não do espírito? Acompanho o Steven COvey há algum tempo, e era dele a teoria da eficácia, muito metodológica, com receitas para o dia a dia, que nos deixavam mais eficazes, vide o livro "os sete hábitos das pessoas altamente eficazes" até ele percebeu que existe um algo mais, além da metodologia. No seu último livro "O oitavo hábito, da eficácia à grandeza" já aparecem questões como a verdade, a emoção, a paz de espírito e etc, sempre aplicados a gestão. Que sejamos bem vindos também nessa nova era, que também é mais humana. Como estou sempre ligado à tecnologia e ao novo, acho fantástica a sugestão do Steiner de erradicarmos da alma todo o medo e terror do que o futuro possa trazer ao homem, e vamos em frente!

Anônimo disse...

Rabboni, escolhi este tema porque penso que casa com um assunto que tem me incomodado, já há algum tempo, e achei que poderia estar me expressando aqui.
Vivo no mundo de Telecom e é inevitável estar envolvido no que há de mais novo em termos de tecnologia. Tenho vivenciado um mundo de rupturas, várias modificações do ambiente de trabalho, da estrutura organizacional. Muito tem-se falado em Inovação de Gestão, ineditismo de soluções, atitude, enfim sempre visando um acrescimo de lucros e competitividade.
Quando li em seu blog sobre o Oitavo Hábito, da eficácia à grandeza, espero que no etc, citado esteja incluido, além de verdade, emoção, paz, também o termo moral.
Pouco ou quase nada tem-se falado sobre inovação de moral, ineditismo de crescimento de relacionamento coletivo, com respeito, com tolerância, com credibilidade, digo, o famoso "fio do bigode" .
Muito pelo contrário, temos visto adolescente sendo violentada por bandidos encarcerados, temos visto pessoas desesperadas devido a especulação bancária (USA , imóveis), assaltantes arrastando crianças após roubo de carro, pessoa sendo espancada em pontos de coletivos, etc.
Infelizmente ainda não sei qual a fórmula para estas situações, o que tenho feito é tratar as pessoas como pessoas, sem distinção de cor crença, etc. Mas confesso que tenho enfrentado algumas dificuldades....
Obrigado por esta oportunidade.

Edu@rdo Rabboni disse...

Obrigado pelo comentário Douglas. De fato por vezes ficamos pensando se tudo que fazemos e ajudamos a evoluir tem de fato alguma valia, haja vista as imensas injustiças que vemos no dia-a-dia, e mesmo as diferenças econômico-sociais existentes em nossa atual sociedade, que aparentemente só aumentam. Por outro lado, acho que para procurar um equilíbrio, é importante notar também que a sociedade nunca experimentou tamanha transparência como a que vivenciamos hoje. Talvez os males que vivenciamos hoje sejam parte do remédio para nos curarmos enquanto sociedade, pois o tratamento de uma doença sempre começa com tomarmos conhecimento que ela existe, e esse sempre é o pior momento da cura, certo? No discurso que fiz para uma turma de formandos da FEI, no ano passado abordei os valores e ética que nos devem nortear, sem os quais a tecnologia de nada serve. Vamos em frente, corrigindo o que estiver errado e celebrando nossas conquistas.