domingo, agosto 06, 2006

Discurso para uma turma de engenheiros recém-formados da FEI

Discurso que fiz como Patrono da última turma de engenheiros formados na FEI (onde também me formei em 89). Mostra como encaro e considero o uso da tecnologia:


Boa noite

Meus cumprimentos aos colegas formandos da turma de dezembro de 2005 do Centro Universitário da Fundação Educacional Inaciana Padre Sabóia de Medeiros, prezados amigos e familiares, queridos e saudosos mestres,

Peço-lhes desculpa por estar lendo o que tenho a falar, mas esse recurso me ajuda a driblar a emoção, que certamente dificultaria-me as palavras nesse momento.

Muito me honra ter sido escolhido patrono desta brilhante turma, que chega agora a um momento de vitória e consagração de expectativas, de ver cumprida uma das etapas mais importantes de suas vidas acadê-micas, junto de uma das mais conceituadas instituições de ensino desse país,

Reconhecendo a responsabilidade que essa escolha me traz, gostaria de comentar alguns pontos, onde minha experiência possa, de alguma forma, contribuir para o sucesso de suas carreiras;

Apesar da quantidade crescente de profissionais que são apresentados ao mercado todos os anos, continuamos vivenciando a realidade de que várias vagas no mercado, são difíceis de serem preenchidas.


Deixando de lado a qualidade do ensino, pois entendo que fazemos parte de uma minoria que teve acesso a uma qualidade diferenciada de formação, como a que recebemos na FEI, o que falta para fechar essa equação?

Entendo que o conhecimento, uso de tecnologia e de técnicas administrativas são fundamentais, mas não são essenciais.

Essencial é o uso que fazemos desse conhecimento. Essencial é o resultado que esse conhecimento traz para a sociedade, essencial é o tanto que conseguimos melhorar a vida das pessoas, através da aplicação de conhecimento e tecnologias. Assim não se entreguem à sedução da tecnologia pela tecnologia.

O que vem diferenciando os profissionais no atual mercado de trabalho, ano a ano, é a sua capacidade de liderar equipes, mesmo em momentos incertos e nebulosos, sua capacidade de traduzir o presente, às vezes incompreensível aos olhos de muitos, de forma que possamos utilizar essa informação para traçar planos que nos ajudem a atravessar crises, pois estejam certos, elas virão.

Quando saí da FEI em 1989, a China era apenas um país imenso do outro lado do mundo, sem ação efetiva sobre a economia do Brasil na maioria dos mercados em que atuamos, a Internet no Brasil era restrita a uma parcela irrisória da população, a planta de telecomunicações era aproximadamente um quarto da atual, que já ultrapassa 140 milhões de linhas, ainda falávamos em duas Alemanhas, Bin Laden estava em treinamento militar, patrocinado pelos Estados Unidos e a inflação no Brasil alcançava o pico de 80% ao mês.

Citei apenas meia-dúzia de mudanças no panorama mundial e local, que podemos reconhecer como rupturas, que afetaram imensamente o mercado de trabalho, no qual agora vocês ingressam com vontade, apenas para reforçar a importância de trabalharmos com foco em visão estratégica e visão de futuro, e sem realçar em demasia o modo como as coisas sempre foram feitas ou as tendências históricas, haja vista que as mudanças mais profundas, são de difícil previsibilidade, e sermos agentes de mudanças também é essencial.

Deve se olhar atentamente para a formação que se recebe na faculdade, e valorizar entre uma infinidade de informações que são passadas a respeito de equações, comportamentos físicos e químicos, mecânica, termodinâmica, eletricidade, desenho, e uma série de outras cadeiras técnicas, valorizando também a vivência entre colegas e mestres, as inúmeras superações de dificuldades que passaram nesses cinco anos, a forma como se prepararam para ultrapassar os desafios que lhes foram apresentados, a solidariedade presente nos grupos de estudo, para com aqueles que, por diversos motivos, apresentaram maiores dificuldades na compreensão da matéria, a maneira como festejaram as vitórias, e até o aprendizado que se obteve com os eventuais resultados aquém do esperado neste mesmo período. Ou seja, o que levamos desse período em que investimos durante cinco anos em nossa formação, é um misto de conhecimento técnico e humano, e não existe possibilidade de dizer qual deles é mais importante.

Confiem nos conceitos simples da vida, não compliquem sua vida profissional com palavras, siglas e termos desnecessariamente técnicos.

Nas entrevistas futuras, não digam o que imaginam que o entrevistador eventualmente queira ouvir, e sim aquilo em que vocês de fato acreditam, se isso não melhorar as suas chances de serem contratados, pelo menos os fará pessoas mais felizes;

Preocupem-se pessoal e profissionalmente com o meio-ambiente, ele é o legado que deixaremos para nossos descendentes;

Lembrem-se que atualmente, a responsabilidade social das empresas é algo que aparece inclusive no balanço das mesmas. Existem empresas que publicam inclusive um Balanço Social, onde são destacadas todas as ações praticadas na área de responsabilidade social e de contribuição a cidadania.

Em um País em que a impunidade foi comemorada na semana passada com dancinhas ridículas no Plenário da Câmara, cumpre-nos a responsabilidade de criar e propagar uma Nação mais ética, séria e comprometida com o futuro, através de nossa atuação profissional.

Sejam empreendedores. Dentro ou fora de organizações vale muito nossa capacidade de construir algo, com base nas nossas crenças, valores e objetivos pessoais.

E como disse Paulo Freire, é hora de esperança, mas não esperança do verbo esperar e sim do verbo esperançar. Esperança que se consagra, assim como a formatura de vocês, através de esforços concretos em ações que acreditamos e pelas quais agimos e construímos algo, e disso, nós engenheiros FEIANOS entendemos muito bem!

Muito obrigado!

Um comentário:

Anônimo disse...

necessario verificar:)