domingo, agosto 06, 2006

Nossos filhos e os vídeo-games

Muito se tem falado a respeito do desenvolvimento de crianças e o efeito que os jogos eletrônicos, ou mais comumente chamados vídeo-games, trazem sobre elas. Como todos sabemos, nesses tempos atuais, nossas crianças são apresentadas muito cedo a uma série de experiências, nem sempre adequadas ao seu desenvolvimento ou capacidade de compreensão, seriam então os vídeo-games mais um vilão dentre a série de episódios que têm potencial negativo sobre o desenvolvimento de crianças?

Quero defender a tese de isso não acontece. Muito pelo contrário, temos vários exemplos positivos de como um programa de computador com objetivo de entretenimento pode ser benéfico ao desenvolvimento cognitivo e até cultural da criança. Acompanho de perto, até onde meu raciocínio de adulto permite, como meu filho de 12 anos brinca e se diverte com jogos eletrônicos, e verifico que através deles, ele tem se interessado por aprender inglês, haja vista que a maioria dos jogos, atualmente são interativos pela Internet, e fornecem a capacidade do jogador se comunicar com pessoas do mundo todo, estabelecendo estratégias e se preparando para desafios que são os objetivos finais de cada jogo. E aprende também que deve se preparar para desafios, verificar seus pontos fracos e fortalecê-los, a importância de ter um time forte e unido para chegar a um objetivo comum, o quanto é importante que todos no mesmo time sejam bons para que se ganhe uma batalha, e não apenas o brilhantismo de alguns, garantem o resultado final favorável.

Mas e a preocupação com a violência representada por tantos jogos de guerra ou outros jogos baseados na capacidade do jogador aniquilar a maior quantidade de inimigos no menor tempo possível? Bem, é claro que sempre teremos escolhas entre as opções que fazemos diariamente, e algumas delas, podem nos levar a uma exposição inadequada à violência. Por outro lado a violência não entra em nossas casas apenas através dos jogos de comutador, basta ligarmos a televisão para acompanharmos seqüestros, assaltos a mão-armada, execução de inimigos extremistas de países rivais, analisarmos as primeiras páginas de vários jornais, lermos as revistas que nos chegam semanalmente, ouvirmos as notícias do rádio, assistirmos a uma partida de futebol, onde as torcidas guerreiam nas arquibancadas e até fora dos estádios, através de brigas sem sentido e explosões de violência que ferem nosso bom senso. Isso sem falar da violência a que todas as crianças estão sujeitas, sempre que ignoramos suas opiniões, que professores mal preparados lhes impingem idéias sem o devido cuidado para que entendam o contexto do que estão aprendendo, ou mesmo a violência representada por uma resposta ou comentário mal-humorado que fazemos frente a um questionamento da criança que por vezes é impertinente, mas que quase sempre representa uma dúvida legítima.

Não concordo que canja de galinha e cautela não façam mal a ninguém, muito pelo contrário tenho visto ótimas oportunidades por vezes serem desperdiçadas, frente a um excesso de cautela ou indecisão. Quanto ao efeito de uma super-alimentação baseada unicamente em canja de galinha, não acredito que existam estudos profundos sobre o tema, mas sou levado a crer que igualmente não deve ser lá tão saudável. Está claro que qualquer coisa em excesso é prejudicial a nossa saúde e bem estar físico e psicológico, assim preocupa-me o fato de tantas crianças que vão gradativamente tendo suas infâncias assistidas por programas de televisão, vídeo-games, internet, ou apenas jogos de futebol n a rua, em substituição a um sólido referencial adulto para a edificação de seu caráter e a um leque de atividades diversificadas, que permitisse o melhor desenvolvimento social, físico, cultural e cognitivo possível.

Cada vez mais nossos filhos estão sendo cerceados de usufruírem de um espaço público comunitário que lhes possibilitasse o maior convívio possível com outras crianças, e as brincadeiras que tantas vezes praticamos em nossas infâncias, e que nos ensinaram tantas coisas. Tudo isso em nome de uma propalada segurança, que somos forçados a procurar, dentro de nossas casas, entre muros altos ou no interior cercado de condomínio ou edifícios resguardados do ambiente externo, através de cercas eletrificadas, muros altos, alarmes e o que é pior, câmeras que a tudo monitoram o tempo todo.

Não é isso que queremos para nossos filhos, queremos sim que eles desenvolvam todo o tipo de atividade possível, para que tenham as experiências necessárias ao seu desenvolvimento, e tenho visto que um equilíbrio de bons programas de TV ou filmes, a companhia de autores reconhecidos pela facilidade de se comunicarem com o público jovem de maneira adequada, bons jogos de computador baseados na habilidade de estratégia e necessidade de interação com crianças de outros países, esportes e boas conversas operam milagres em nossas crianças. Todos temos preferências pessoais e nem todas as atividades necessárias são possíveis sem um certo esforço nossa, pois várias delas dependem de que levemos nossos filhos a praticarem, requerem por vezes nosso acompanhamento, para vermos se as atividades não representam perigo de relacionamento, pois a Internet abre possibilidades que devem ser supervisionadas para evitar-se eventos desagradáveis, ou seja, exigem um determinado compromisso de nosso tempo, caso contrário podemos ter eventuais desequilíbrios que levariam a excessos, esses sim prejudiciais ao desenvolvimento das crianças.

Nesse sentido acredito que nosso desafio seja aproveitarmos ao máximo o curto espaço de tempo com nossos filhos, tentando entender o que fazem nessas maquininhas e computadores, o que lêem, o que assistem na TV, quem são seus amigos na escola, na vizinhança e no clube e, na medida do possível, sempre lhes apresentar programas e alternativas saudáveis para seu desenvolvimento como cidadão.

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